Cólera

É uma doença infecciosa intestinal aguda causada pela enterotoxina do Vibrio cholerae  01 dos biotipos Clássicos e El Tor (sorotipos Inaba, Ogawa e Hikojima), e também o biótipo 0139. O Vibrio cholerae é um bacilo Gram negativo, com flagelo bipolar, aeróbio ou anaeróbio facultativo, produtor de endotoxina.

A doença pode se apresentar de forma grave com diarréia aquosa e profusa, com ou sem vômitos, dor abdominal e câimbras. Esse quadro, quando não tratado prontamente, pode evoluir para desidratação, acidose, colapso circulatório, com choque hipovolêmico e insuficiência renal. Mais frequentemente, a infecção é assintomática ou oligossintomática, com diarréia leve. A infecção produz aumento de anticorpos e confere imunidade por tempo limitado (em torno de seis meses).

Modo de transmissão

O Vibrio cholerae eliminado pelas fezes e vômitos de pessoas infectadas, sintomáticas ou não, pode transmitir-se a outras pessoas de 2 modos:

  • Transmissão indireta - via mais frequente e responsável pelas epidemias. A ocorrência de casos é devida à ingestão de água ou de alimentos contaminados.
  • Transmissão direta - menos frequente, potencialmente pode ocorrer em ambiente domiciliar ou institucional, através das mãos contaminadas (do próprio infectado ou de alguém responsável por sua higiene pessoal ou de sanitários), levadas à boca.

Diagnóstico laboratorial

Os exames laboratoriais consistem habitualmente do cultivo de fezes e/ou vômito, com o objetivo de isolar e identificar bioquimicamente o Vibrio cholerae, bem como realizar sua caracterização sorológica.

A atuação do laboratório na vigilância da cólera é essencial para:

  • Detectar a entrada do V. cholerae O1 em uma determinada área; monitorar sua presença contínua ou o seu desaparecimento; determinar a sensibilidade aos antimicrobianos e identificar a sua presença no meio ambiente. Considerando a existência de cepas de V.cholerae O1 não toxigênicas, cabe também ao laboratório demonstrar se a cepa isolada é toxigênica, especialmente na monitorização do meio ambiente.
  • O diagnóstico laboratorial da cólera é dado pelo isolamento do Vibrio cholerae O1 de fezes recém emitidas. Como o sucesso da investigação laboratorial depende da coleta e transporte adequados das amostras fecais, são importantes as seguintes observações:
    1. As amostras fecais devem ser coletadas logo após o início dos sintomas, pois o número de vibriões diminui drasticamente já no terceiro dia da doença;
    2. As amostras fecais devem ser coletadas antes da antibioticoterapia, pois no período de algumas horas após a administração do antibiótico, há uma completa eliminação do vibrião das fezes.

      As amostras fecais (fezes in natura) devem ser coletadas em frascos limpos de boca larga (preferencialmente esterilizados ou fervidos). Após a coleta, os frascos devem ser hermeticamente fechados para evitar o extravasamento do material. Se o tempo entre a coleta do material e o transporte do mesmo, ao laboratório, não excederem duas horas, as amostras poderão ser transportadas à temperatura ambiente; se este prazo for superior a duas horas (prazo máximo de cinco horas), o transporte deverá ser realizado sob refrigeração;

    3. Nos locais distantes, onde o prazo entre a coleta e o processamento do material ultrapassa cinco horas, deverá ser transportado em um swab fecal. Para isso, mergulhar a parte inferior do swab nas fezes recém emitidas e coletadas no frasco, introduzindo, a seguir, o swab no meio de Cary Blair. O swab, após a coleta, deve ser introduzido no meio de cultura impedindo assim a dessecação do material.

      A coleta de fezes diretamente do reto (swab retal) deverá ser realizada introduzindo o swab na ampola retal (2-4 cm). Considerando que o swab absorve apenas cerca de 0.1ml de material fecal e que convalescentes e pacientes assintomáticos eliminam um número pequeno de vibriões, o swab retal é menos satisfatório do que o swab fecal ou do que as fezes in natura.

Complicações

A doença pode provocar insuficiência renal aguda, aborto e parto prematuro, hipoglicemia (mais grave em crianças), e outras complicações mais raras como, colecistite e úlcera de córnea. O atendimento rápido e adequado reduz a taxa de letalidade para menos de 1%.